Que a voz de Michael Jackson é privilegiada, isso é incontestável. Seus detratores, críticos musicais, produtores, professores de música e seus alunos, profissionais diversos da música, os que o amam, os que o odeiam e, é claro, seus fãs, são unânimes em afirmar que o alcance vocal de Jackson é único e sua voz é personalíssima, inigualável.
As características técnicas dessa tessitura vocal com tamanha amplitude eu deixo para a análise específica de um seleto grupo de “experts” no assunto. Eu pertenço a um outro grupo, provavelmente bem maior, daqueles que, embora não sendo especialistas em técnicas vocais, o amam com grande devoção e, não sendo surdos, conhecem o que é boa música e reconhecem uma voz especial. Sabemos que Michael treinava sua voz, a aquecia e cuidava dela como um tesouro, mas sabemos também que essa voz emergia da alma, como tudo que ele fez.
Mesmo não tendo ouvidos musicais, a minha trajetória gospel me ensinou a apreciar a boa música e a reconhecer alguns detalhes. Quem já cantou num grupo vocal de igreja ou montou uma banda no seu tempo de adolescente sabe do que estou falando. Você passa a ficar mais seletivo, seus ouvidos percebem melhor e distinguem mais facilmente sons como instrumentos vocais, arranjos, back vocals, subidas e descidas das vozes nada muito científico, apenas a capacidade de maior sensibilidade para ouvir.
Pois bem, foi essa percepção mínima, não muito aguçada nem sequer especializada que me conferiram hoje, o direito de falar da voz de Michael Jackson.
E é do tempo de menina minha primeira memória auditiva de Michael, quando ainda no Jackson Five, a interpretação angelical de criança por vezes assumia uma forma quase adulta, algumas reviravoltas na voz, uns lances assim tão maduros… Mas foi quando ouvi “One Day in your life” que me apaixonei de vez.
Aquela voz comunicava uma emoção que me contagiava e me fazia sentir como ele, ou pelo menos, como ele queria que eu sentisse.Sim, aquela voz tinha esse poder.Porisso chamo a minha fala de “um registro apaixonado” sobre o impacto que essa voz causa em mim: me transmite calma e ânimo, me instiga a pensar e me impulsiona a agir, me mantém viva.
Eu te convido a ler esse texto e a viajar por algumas músicas que Michael Jackson interpretou. Para aproveitar melhor a viagem, desnude-se do preconceito e vá saboreando o menu que se apresenta.
Pra mim, leiga no assunto, ele tem muitas vozes, da aguda ao tenor possante, em todas as formas que se apresenta estão lá as marcas identitárias de Michael Jackson: a entrega total à sua arte, a intensidade, a sensualidade natural, entre outras. Mas os especialistas advertem- é uma só voz, dotada de grande amplitude, parecendo ser várias. Mas, voltamos à minha visão apaixonada.
Sua voz, como nenhuma outra, traduz emoções. Parece redundante dizer isso de um cantor tão expressivo como Michael, mas que outra voz se utilizou de tantos recursos para expressar o amor e o ódio, a solidão e o excesso, a paz e a guerra…? Estão registrados na história musical os gemidos dolorosos de quem chora um amor que se foi, de quem amarga a solidão mesmo em meio à multidão, de quem se revolta pelos elefantes dizimados, pelas florestas incendiadas; estão ali os sussurros aos pés do ouvido, a respiração ao microfone, o estalar da língua, o soluço, os gritos enrrouquecidos pedindo socorro ao planeta, ensandecidos denunciando o abuso da mídia,que, sem parcimônia e respeito, invade sua privacidade e, pior que tudo, produz infâmias sobre ele. Não faltam também os gritinhos agudos e brincalhões, zombando de quem leva a vida muito a sério. Esse Michael!!!!! Tente ao menos, não sentir paixão alguma ouvindo “Fall again” ou o mínimo de compaixão ao ouvir sentir a autobiográfica “Childhood”.
Sua voz derruba teorias. E ele, corajoso como só, não tem nenhum pudor de exibir a voz agudíssima, algo tão inédito para uma interpretação masculina, ainda mais de um cantor negro, da América tão cheia de hipocrisias e de falso puritanismo. Ele ousou desafiar o que estava posto e se fez único. Uma voz nem tipicamente feminina, nem propriamente masculina. Uma voz só dele, sem comparações, indecifrável e múltipla como só ele soube ser e, como ele próprio, não cabe em nenhuma categoria de classificação. A voz é maior que as escalas classificatórias, não se encaixa nos conceitos, menos ainda nos preconceitos.
Sua voz desenha. Quando eu o ouço, é como se ele utilizasse a voz assim como o pintor pega o pincel e fosse desenhando: linhas curvas e retas, arabescos, escadas que vão até as nuvens, sonhos impossíveis. E vai colorindo tudo também: a voz produz uma gama infinita de tons e matizes diversas, verdadeira aquarela musical. Mesmo quando a voz soa triste, nunca é cinza ou sem cor, pois diante dela, até a tristeza tem cores, suaves e pálidas, mas ainda assim estão lá. Nas músicas mais ritmadas e alegres, há um mosaico multicolorido, caleidoscópio perfeito e dançante.
E aquele soprinho no microfone: O que é isso???? Arrepiante…Me faz acreditar cada vez mais, que Deus criou mesmo o homem a partir de um sopro nas narinas.
Sua voz transmite respeito aos seus fãs, canta o que eles querem ouvir, isso deixou sempre claro, até a derradeira This is it!
Somos gratos a Deus por esse homem que foi um instrumento bem afinado, que teve a capacidade de aliar a transpiração do trabalho árduo dos ensaios, exercícios vocais, horas a fio em estúdios com a inspiração divina do dom a ele conferido, que teve a a habilidade de transformar esse dom em arte e a compartilhá-la conosco. Sua belíssima voz é um presente a todos que o amamos e também um legado à humanidade e está eternizada nas suas canções.
Thanks, Michael. God bless you!
Maio/2011
Texto registrado no Recanto das letras :
Irleide de Souza
em 07/01/2012
Código do texto: T3426990
Fonte:http://falandodemichaeljackson.wordpress.com/2011/08/22/a-voz-de-michael-jackson-um-registro-apaixonado/
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Eu também lhe agradeço, por tudo o que ele nos deu.
ResponderExcluirThanks, Michael. God bless you!