sábado, 1 de fevereiro de 2020

Abraço



Coisa bem bolada essa dos braços se encaixarem. 
Uma possibilidade tão perfeita que parece que já foram imaginados também com esse propósito. 
Mas o melhor do abraço não é a ideia dos braços facilitarem o encontro dos corpos. 
O melhor do abraço é a sutileza dele. 
A mística dele. 
A poesia. 
O segredo de literalmente aproximar um coração do outro para conversarem no silêncio que dá descanso à palavra. 
O silêncio onde tudo é dito sem que nenhuma letra precise se juntar à outra. 
O melhor do abraço é o charme de fazer com que a eternidade caiba em segundos. 
A mágica de possibilitar que duas pessoas visitem o céu no mesmo instante.


No abraço bem fluído as duas vidas se ocupam de contemplar 
somente a paisagem que compartilham. 
Os olhos se tornam surdos para qualquer registro 
que esteja fora do ambiente construído. 
Talvez seja por isso que costumamos fechar os olhos quando abraçamos: 
para abri-los para dentro. 
Quando inclui o sentimento, o abraço é um portal que dá acesso às regiões mais arborizadas do coração da gente. 
Lá onde cantam passarinhos. 
Lá onde voam borboletas. 
Lá onde se respira grande sem ter a alma contraída. 
Lá onde experimentamos o amor ensolarado, 
por mais nuvens encharcadas de medo que também existam em nós.


Autoria: Ana Jácomo