Coisa bem bolada essa dos braços se encaixarem.
Uma possibilidade tão perfeita que parece que já foram imaginados também com esse propósito.
Mas o melhor do abraço não é a ideia dos braços facilitarem o encontro dos corpos.
O melhor do abraço é a sutileza dele.
A mística dele.
A poesia.
O segredo de literalmente aproximar um coração do outro para conversarem no silêncio que dá descanso à palavra.
O silêncio onde tudo é dito sem que nenhuma letra precise se juntar à outra.
O melhor do abraço é o charme de fazer com que a eternidade caiba em segundos.
A mágica de possibilitar que duas pessoas visitem o céu no mesmo instante.
No abraço bem fluído as duas vidas se ocupam de contemplar
somente a paisagem que compartilham.
Os olhos se tornam surdos para qualquer registro
que esteja fora do ambiente construído.
Talvez seja por isso que costumamos fechar os olhos quando abraçamos:
para abri-los para dentro.
Quando inclui o sentimento, o abraço é um portal que dá acesso às regiões mais arborizadas do coração da gente.
Lá onde cantam passarinhos.
Lá onde voam borboletas.
Lá onde se respira grande sem ter a alma contraída.
Lá onde experimentamos o amor ensolarado,
por mais nuvens encharcadas de medo que também existam em nós.
Autoria: Ana Jácomo